Butiá
Butiá, butiá-da-praia, butiá-azedo, butiá-branco
Nome Científico: Butia odorata (Barb.Rodr.) Noblick & Lorenzi
Família Botânica: Arecaceae

O gênero Butia

O gênero mais representativo no RS da família Arecaceae é o Butia. É um gênero pequeno e aparentado de Syagrus (gênero ao qual pertence o jerivá). No RS ocorrem as seguintes espécies de butiás: Butia odorata (litoral, Depressão Central e metade Sul do estado), B.eriospatha (em campos na região da mata com araucária), B. paraguayensis (noroeste do estado), B. yatay (ocorrências em butiazais na região sudoeste e esparsamente na região das Missões), B. lallemantii, B. microspadiz , B. catarinensis (norte do RS) e B. witeckii. No município de Porto Alegre, é registrada a ocorrência natural de B. odorata.

Nas últimas décadas, as populações naturais de Butia odorata no sul do Brasil vêm sofrendo uma drástica redução. São poucas os remanescentes devido ao estabelecimento de monoculturas, pecuária extensiva e acelerada expansão urbana.

O butiá é uma palmeira nativa do sul da América do Sul de caule solitário, ereto ou um pouco inclinado, de 3 a 6 metros de altura, embora possam ser encontrados indivíduos medindo entre 10 e 20 metros. Não possui palmito visível no topo. As folhas, entre 7 e 32, contemporâneas, são pinadas, arqueadas, de coloração verde acinzentada, com bainha e pecíolo cobertos por fibras achatadas e duras em forma de dentes. As inflorescências são interfoliares, ramificadas, formando cachos. Os frutos são globosos, em vários tons de amarelo; o tamanho, entre 1,4 e 6,0 cm, aumenta conforme aumenta a latitude da região onde ocorre. A polpa é carnosa, aromática e adocicada. O suco dos frutos ainda verdes pode ser utilizado como vinagre. As sementes têm germinação bastante lenta devida à dormência. É possível superar essa dormência abrindo-se a cavidade embrionária das sementes, deixando exposta a porção apical do embrião.

Floresce nos meses de outubro, novembro e dezembro e frutifica em fevereiro, março e abril.

Ocorre naturalmente no RS, principalmente no Litoral Médio e Litoral Sul e na Depressão Central do Rio Grande do Sul, e também no Uruguai.

USO TRADICIONAL DO BUTIAZEIRO – Butia sp

Estudos sobre o uso do butiá por comunidades tradicionais apontam para o uso integral do butiazeiro, isto é, de praticamente todas as suas partes.

Uso do fruto: a parte da planta mais utiliza é o fruto. Tanto para o consumo in natura quanto para o preparo de licor, cachaça de butiá, suco, geleia, bolo, bombom, em sobremesas como sorvete, mousse e arroz de butiá.

Uso da amêndoa: a amêndoa do butiá também é utilizada como alimento. Em regiões de ocorrência do butiá, é comum pessoas de idade avançada relatarem o consumo da amêndoa durante a infância. Ela pode, ainda, ser utilizada no preparo de licor e de rapadura. Outra prática tradicional associada ao uso da amêndoa do butiá é torrá-la no forno e consumi-la. Das amêndoas também pode ser extraído óleo comestível.

O butiá está entre as frutíferas nativas mais conhecidas e apreciadas pelas populações locais. É tradicional colocar os frutos na cachaça para dar sabor e aroma mais agradáveis.

A espécie é bastante abundante no Uruguai, formando áreas extensas de “palmares”. Um dos usos tradicionais do butiá na região era o de torrar as sementes, moê-las e elaborar uma bebida similar ao do café, o café de coquito, consumido puro ou misturado ao mate.

Em tempos passados, era comum na zona rural, muitas casas terem uma pedra e um pilão para moer o coquinho torrado. Além de apropriados para a alimentação humana, os frutos das palmeiras, de modo geral, são um importante recurso alimentar para a fauna silvestre.

Diferentes partes do butiá podem ser utilizadas como matéria-prima para artesanato. Artesãos utilizam a polpa seca do fruto em um processo semelhante ao utilizado na fabricação de papel reciclado e, assim, obtêm papel de polpa de butiá. A partir das folhas podem ser confeccionados artigos de cestaria. O uso tradicional no RS inclui o uso das folhas de butiá pelos indígenas para a confecção de cestas, chapéus, bolsas, redes, armadilhas para caça e pesca, além de como cobertura de suas habitações.

À semelhança do que ocorria nos butiazais do Uruguai por volta das primeiras décadas de 1900, também no RS a folha do butiazeiro era utilizada na indústria de colchões. Era a exploração comercial da folha seca dos butiazeiros, chamada então de crina vegetal.

O caráter ornamental da planta sempre vem à tona quando se fala no butiá. Este é, porém, um fato que deve ser visto com preocupação, já que é cada vez mais comum a presença de mudas e indivíduos jovens embelezando as fachadas de grandes empreendimentos imobiliários em Porto Alegre e outras cidades.  Assim, mudas de butiá são retiradas da região de ocorrência natural para serem vendidas em outras regiões. Tal prática representa uma séria ameaça às populações nativas de butiás devido ao grande tempo de desenvolvimento requerido para que esta palmeira atinja sua maior estatura. A retirada ilegal de mudas não se restringe ao gênero butiá, pois mudas de outros gêneros de palmeiras como Trithrinax (buriti)Geonoma (aricanga)Bactris (tucum)Syagrus (gerivá) Euterpe (juçara) são retiradas de seu habitat para serem comercializadas. O extrativismo ilegal dessas espécies demonstra que há um potencial comercial inexplorado de produção e comercialização de mudas de palmeiras nativas.