PASSIFLORACEAE

A família Passifloraceae é nativa dos trópicos e sub-trópicos. Atualmente dividida em duas tribos: Paropsieae (restrita a Europa, Madagascar e áfrica) e Passiflorieae. Esta última é representada por 14 gêneros dos quais cinco ocorrem na América Latina: Ancistrotryrsus, Dilkea, Tetrastylis, Mitostemma e Passiflora. O gênero passiflora é o maior da família, com cerca de 400 espécies, e também o mais bem estudado provavelmente devido a sua importância econômica.

Independentemente do valor comercial, os maracujás são um importante recurso para a fauna silvestre uma vez que são produtores de néctar, pólen, frutas, sementes e outros tecidos vegetais para as populações de insetos herbívoros.

Maracujá, passionária (castelhano), mburukuyá (guarani), murucuiá (Par.), uiricuja (Ur.), murucuyá (Arg.), flor-da-paixão, passion fruit, granadille (fran.) são alguns dos nomes populares utilizados para denominar espécies do gênero Passiflora. O nome, de origem tupi, mara cuya, significa “alimento na cuia” ou “fruto que se serve”.

A grande maioria dos maracujás é composta por trepadeiras lenhosas perenes. As flores são bastante diversas em termos de tamanho, coloração e forma, mas, em termos estruturais não variam muito: são hermafroditas, em geral com o perianto completo. As pétalas possuem filamentos dispostos em círculos que formam a corona, uma estrutura típica das flores desta família. Outra estrutura típica das flores do maracujá é o androginóforo: um prolongamento do eixo floral que sustenta e eleva, acima do perianto, as anteras e os estigmas.

Características gerais do gênero:

O caule pode ser cilíndrico, angular; raramente quadrangular e estriado. Apresenta gavinhas normalmente solitárias e axilares, robustas ou tênues. Estípulas sempre presentes, embora ás vezes caiam cedo; de forma muito variável. Os bordos podem ser inteiros, serreados, denteados; algumas são foliáceas. As folhas variam muito de forma e tamanho, mesmo dentro de uma mesma espécie ou até numa mesma planta. São pecioladas, alternas, inteiras, recortadas, elípticas, ovadas; bi, tri ou pentalobadas; palmadas. Predomina o bordo inteiro, mas há os serreados ou denteados. Nervuras: tri ou pentanervadas, que podem terminar em mucrom. Os pecíolos geralmente apresentam nectários extraflorais; a ausência ou presença destes são características utilizadas para diferenciar espécies ou grupos. Perianto: cálice e corola sempre em número de cinco; sépalas comumente carnosas e pétalas membranáceas variando muito em coloração. Em todas as passifloras os estames e carpelos situam-se no ápice do androginóforo, o qual varia em tamanho conforme a espécie. O ovário é súpero e o fruto uma baga indeiscente muito variável em tamanho e cor, geralmente de polpa acidulada, às vezes adocicada, mucilaginosa e aquosa que envolve as numerosas sementes.

Apesar das flores hermafroditas, quase a totalidade das espécies é auto-incompatível e, portanto, dependente da polinização cruzada mediada por animais. Quando o cultivo objetiva a produção de frutos, deve-se, portanto, ter mais de uma planta. As flores de passifloráceas são polinizadas principalmente por insetos, sendo as abelhas o grupo mais importante. Depois dos insetos, os beija-flores figuram como importantes polinizadores. A polinização mediada por morcegos também é relatada para a família.

O nome FLOR da PAIXÃO ou PASSIONARIA remonta a época da colonização espanhola na América do Sul. Há registros de que Passiflora incarnata tenha sido a primeira espécie avistada. Os colonizadores, pela sua fé católica, viram na flor e na planta estruturas que lembravam os instrumentos utilizados durante a “Paixão de Cristo”: as folhas lembravam as lanças dos soldados; as gavinhas, os açoites; a corona de filamentos, a coroa de espinhos; os três estiletes, os três cravos e as cinco anteras, as cinco chagas de Cristo. As pequenas sementes avermelhadas lembraram as gotas de sangue coagulado que brotaram das feridas do corpo. Todo esse simbolismo cristão se completa com a lenda guarani que relata o seguinte: um sacerdote chegado às missões com o propósito de ensinar a fé cristã cruzava todos os dias a floresta em busca de indígenas para converter. Certa vez ao cruzar uma picada, ouviu o choro de uma menina que, perseguida por um jaguar, se escondeu sob uma árvore. O padre, então, para salvar a menina, atraiu para si o jaguar, enquanto gritava para ela que corresse dali. O animal, trocando uma presa por outra, acabou por matar o padre. O sangue regou o solo, sobre o qual pouco tempo depois nasceu uma planta, o maracujá ou passionária, cuja flor relembra ao mundo a beleza de sofrer pelo bem dos outros.

Uso medicinal

O maracujá é tradicionalmente usado na medicina popular e seu uso é amplo, embora o uso como calmante e sedativo leve seja o mais corriqueiro.
Suas folhas e suas raízes, como a de quase todas as plantas da família, contêm uma substância semelhante à morfina, a passiflorina (ou maracujina), que tem propriedades sedativas, mas não é prejudicial à saúde já que não causa dependência; é principalmente nela que se baseiam as propriedades terapêuticas da planta.
Existem vários produtos cosméticos e farmacêuticos produzidos no Brasil que apresentam o extrato de passiflora como um dos componentes em suas fórmulas. Além disso, uso de infusos das folhas é amplamente difundido por suas propriedades depurativas, sedativas e antiinflamatórias. As sementes atuam como vermífugos.

Gastronomia:

No caso mais específico de Passiflora edulis, o maracujá mais consumido no mundo, a maturação do fruto é indicada pelo seu desprendimento da planta e a coleta pode ser feita do chão, manualmente. Deve-se evitar comer o fruto antes de amadurecido, pois contém compostos cianogênicos. Ambas as variedades, roxa e amarela, podem ser consumidas in natura, em sucos, geleias, sorvetes, mousses e etc. A flor pode ser utilizada em saladas, é perfeitamente comestível e saborosa, embora, dependendo da variedade, pode ter um ligeiro efeito sedativo.

Tanto o suco quanto a polpa podem ser congelados sem perderem suas propriedades nutricionais; mesmo que o congelamento afete a textura da fruta, o sabor se conserva sem mudanças significativas por até um ano. A polpa e o suco do maracujá são ricos em cálcio, ferro e fósforo, além de vitaminas A e C.

No Rio Grande do Sul ocorrem as seguintes espécies de maracujás: Passiflora amethystina, P. caerulea, P. edulis, P. elegans, P. foetida, P. misera, P. suberosa e P. tenuifila. No município de Porto Alegre, há registros da ocorrência natural de P. caerulea, P. edulis e P. elegans.